Comecemos por observar que a Caderneta de Poupança é, ainda, a aplicação
preferida dos brasileiros. Apesar da baixa rentabilidade (reconhecida
pelos investidores), a Caderneta ainda possui aquela aura de
investimento seguro, que vai garantir o futuro. Note que cerca de 60%
dos entrevistados baseiam as suas decisões de investimento no que o
gerente do banco lhe oferece. E o gerente do banco, via de regra, vai
oferecer o produto que mais satisfaça o binômio rentabilidade para o
banco/menor dor de cabeça para si mesmo. Por isso, é natural que a
Caderneta, um produto conhecido e sem surpresas, ainda seja a Rainha dos
Investimentos, apesar do retorno pífio.
Outro ponto interessante, e não surpreendente, é a influência da
rentabilidade passada na percepção de rentabilidade futura. Por exemplo,
as ações praticamente sumiram do portfólio dos investidores, e não são
vistas como investimentos que vão garantir o futuro. A mesma pesquisa
foi realizada em 2008, com números muito mais favoráveis para as ações.
Na outra ponta, os imóveis ganharam a fama de investimento de excelente
rentabilidade, o que não ocorria em 2008. Adivinhe o que vai acontecer
se a sorte destes ativos mudar outra vez, o que certamente ocorrerá em
algum momento no futuro.
Os produtos de Previdência Privada, por sua vez, parece que ganharam
definitivamente o lugar nas mentes dos investidores como o investimento
que vai garantir o futuro. Vale lembrar que um PGBL é só uma estrutura
com vantagens fiscais, e que investe, geralmente, em Renda Fixa. No
entanto, Fundos de Renda Fixa não são vistos como aqueles que garantirão
o futuro. Ou seja, para este investidor, vale mais o marketing (garanta
o seu futuro!) do que o tipo de investimento.
Aliás, é interessante fazer a relação entre rentabilidade e futuro.
Normalmente, seria de se esperar que os investimentos que irão garantir o
futuro fossem os mais rentáveis. Afinal, parece estranho esperar uma
vida melhor no futuro com investimentos que não rendem nada. Mas não é
isso o que acontece! Como vimos, a Caderneta é vista como um dos
principais investimentos que irão garantir o futuro, apesar de sua baixa
rentabilidade. Exatamente o mesmo ocorre com a Previdência Privada.
Somente os imóveis parecem gozar desta relação direta entre
rentabilidade e futuro. Talvez porque, para o investidor médio, garantia
de futuro não signifique apenas rentabilidade, mas também segurança. E
nisto, a dupla dinâmica imóveis & caderneta é imbatível, apesar de
todos os riscos conhecidos do investimento em imóveis. Mas o que importa
é a percepção, mais do que a realidade, assim como no caso dos produtos
de Previdência Privada.
Uma ausência notável é a do Tesouro Direto. Não sei se a
QuorumBrasil, quando fez a pesquisa, incluiu os papéis do Tesouro entre
as alternativas, e o resultado foi inferior a 1%, ou simplesmente
esqueceu-se desta modalidade, o que parece ser o mais provável. Uma
pena.
Por fim, fica uma lição de casa para todos os canais de distribuição
de produtos de investimento: os investidores estão usando cada vez mais a
internet para tomarem as suas decisões, mas 2/3 consideram as
informações difíceis de entender, e não estariam dispostas a investir
via internet. Estas pessoas acabam caindo nas mãos do gerente do banco.
Está aí um campo enorme de trabalho, o do desenvolvimento de uma
linguagem simples para o leigo em investimentos.
Fonte: Estadão
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