Muitas pessoas acreditam que é impossível investir com pouco
dinheiro. Uma renda baixa decerto impõe certas dificuldades que pessoas
com maior renda supostamente não teriam para investir e construir uma
vida financeira estável. Mas a boa notícia é que é possível, sim,
investir com pouco dinheiro. Basta diligência, perseverança e muita,
muita disciplina para investigar as alternativas, organizar o orçamento e
economizar.
Primeiro passo para investir com pouco dinheiro: aplicar em conhecimento
Como tudo nessa vida, o primeiro passo antes de fazer qualquer coisa é
investir em conhecimento. Se você tem pouco dinheiro, antes de sair
investindo no primeiro título de capitalização que seu gerente do banco
oferecer, compre alguns livros. A maior parte dos livros do Mauro
Halfeld e do Gustavo Cerbasi são muito bons para quem está começando e
você pode adquiri-los por menos de R$ 100,00 – e, se necessário, pode
até parcelar o montante. Outra opção, que também pode ser parcelada, é a
compra de bons livros virtuais sobre investimento, como o “Como investir dinheiro“, do Rafael Seabra, que ensina os primeiros passos para quem quer começar a investir.
À primeira vista, essa parece ser uma solução contraditória. Afinal,
quem tem pouco dinheiro já tem pouco para investir, e ainda ter que
“gastar” com livros parece não fazer lá muito sentido. Mas acredite: ter
boas leituras, mesmo que introdutórias, é uma boa receita que vai
trazer retorno mais adiante.
Além dos livros, procure bons blogs de investimento financeiro. Além de “O pequeno investidor”, você também pode acessar o HC Investimentos, o Quero Ficar Rico e o Blog do Beto Veiga,
entre vários outros que vale a pena visitar. Dê uma olhada na lista de
blogs recomendados na parte inferior da coluna da direita do blog.
Aplicar em conhecimento também pode ter outros reflexos: além de
investir no conhecimento financeiro, é importante investir em
conhecimento específico de sua área profissional, de modo a se tornar
qualificado e pronto para conseguir uma promoção ou empregos melhores.
Passo seguinte: organize o orçamento
Adquirido um pouco de conhecimento, já é possível começar a se organizar. Elabore seu orçamento doméstico com bastante disciplina. Como o dinheiro é curto, não tem jeito: retire dele tudo aquilo que for desnecessário. Reveja suas contas e calcule se todos os seus gastos são efetivamente necessários.
Você ganha R$ 2.000 por mês e tem um carro? Não faz sentido: sua
renda é insuficiente para manter seu automóvel. Lembre-se de que os
gastos com ele vão além da prestação do financiamento (que normalmente
já é alta) e combustível. De vez em quando o carro quebra, é preciso
fazer seguro (sim, seguro é indispensável) e cuidar da revisão anual,
além do IPVA. Isso tudo sai MUITO CARO para quem tem pouco dinheiro. Portanto, a regra é: se você ganha pouco, venda seu carro e volte a andar de ônibus.
Sei que para muita gente pode parecer que estou criticando a “nova
classe média brasileira”, que conseguiu acesso a certos bens de consumo
nos últimos anos, ou que é muito fácil para mim, que sou de classe média
com um bom emprego e tenho meu carro, mas não é disso que se trata.
Mesmo no meu caso, tenho um carro bastante abaixo do padrão de automóvel
da maior parte dos meus amigos, para evitar comprometer minha vida
financeira. E o comprei usado, por um preço muito abaixo do de mercado
de um novo.
Nessa etapa de organização do orçamento e de retirar dele tudo o que
for desnecessário, tente verificar o quanto é gasto com lazer e se esse
valor é realmente adequado a sua vida financeira. Não que eu esteja
dizendo para você e sua família não terem acesso a lazer, mas é preciso
sacrifício para construir uma boa vida financeira com pouco dinheiro.
Apenas verifique se não há alternativas de lazer mais baratas do que as
que você tem buscado.
Veja também se não está havendo desperdício em sua casa, com comida,
produtos de limpeza, roupas, etc. Roupa de marca? Nem pensar. Talvez
pareça meio delirante o que estou falando – alguém com pouco dinheiro
comprando roupa de marca -, mas isso acontece muito. Para ter acesso a
um status para o qual não há condição financeira, muitas vezes
uma pessoa com orçamento mais restrito acaba comprando produtos mais
caros, só para “parecer que tem dinheiro”. Isso normalmente é um tiro no
pé da situação financeira.
Outra coisa: antes de começar a pensar em investir, acabe com suas dívidas.
Os juros da maior parte das dívidas – especialmente de dívidas de
pessoas mais pobres, que apresentam maior risco para as instituições
financeiras – são muito elevados e dificilmente alguém com pouco
dinheiro conseguiria investir em produtos que rendessem mais do que os
juros dessas dívidas. A ordem do dia, portanto, é: zere todas as dívidas
e ajuste ao máximo seu orçamento para investir.
Em que investir com pouco dinheiro?
A maior dificuldade para investir com pouco dinheiro (além da
restrição orçamentária, claro) diz respeito à escolha da modalidade de
investimento. Quando você tem pouco dinheiro, a maior parte dos produtos
financeiros se torna mais cara.
Por exemplo: o fundo do Banco do Brasil de curto prazo (BB Curto
Prazo 200), com investimento inicial de R$ 200,00, cobra uma taxa de
administração anual de 2,50%. Considerando que se trata de um fundo de
renda fixa atrelado à Selic, lastreado em títulos do Tesouro Direto,
isso significa que a rentabilidade máxima a ser alcançada por esse
fundo, hoje, é de 7,50%. Ou seja, essa taxa de administração equivale a
1/3 de toda a rentabilidade a ser obtida com esse investimento. O mesmo
fundo de quem tem R$ 50 mil para aplicar (BB CP 50 mil) cobra uma taxa
de administração bem menor, de 1%. Ou seja, mesmo o Banco do Brasil, que
deveria estimular a poupança e cobrar menos de quem tem menos a
investir, acaba cobrando mais.
Como alguém pode investir com pouco dinheiro, então?
O primeiro passo é procurar uma taxa de administração menor. A boa
notícia é que existe uma possibilidade: o Tesouro Direto. Ele cobra exatamente a
mesma taxa de administração de quem é rico ou pobre, mostrando-se um
instrumento bastante democrático de investimento. E a taxa é bem menor:
em muitas instituições, é de apenas 0,50% ou até há isenção dependendo
da corretora (confira as taxas de administração aqui).
O Tesouro Direto tem outra vantagem: a sua rentabilidade normalmente é
superior à da poupança, especialmente em títulos voltados para prazos
mais longos, já que o imposto de renda é regressivo: quanto maior o
prazo, menor o imposto. Além disso, é possível comprar títulos do
tesouro direto por menos que R$ 200,00 (em alguns casos, até menos do
que R$ 100,00).
Quem quer investir com pouco dinheiro para o curto prazo só tem uma
boa alternativa: a poupança, que está, para investimentos posteriores às
mudanças ocorridas no semestre passado, com uma rentabilidade atrelada a
um percentual da Selic e, por essa razão, tende a render menos, no
longo prazo, que o Tesouro Direto. Mas no curto prazo, como o imposto de
renda cobrado no Tesouro Direto é maior, faz algum sentido investir na
poupança.
Se você quiser investir em ações, a lógica é parecida. Alguns fundos
de bancos cobram taxa de administração maior de quem tem menos a
investir, mas é possível encontrar fundos que cobram basicamente o
mesmo. Com pouco dinheiro, só invista diretamente em ações (comprando as
ações individualmente, e não por meio de um fundo) se a sua corretora
tiver taxa de custódia e de corretagem muito baixas. Se essas taxas
forem altas, o valor delas pode corroer a rentabilidade de seus
investimentos. Além disso, com pouco dinheiro é difícil ter uma carteira
de ações equilibrada e diversificada. Por isso, no início talvez o
melhor seja investir por meio de fundos de investimento em ações, sempre
tomando o cuidado de não pagar uma taxa de administração muito elevada.
Fonte: Publicado por Fabio Portela.
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