A nova realidade dos juros reais muito baixos (para a realidade
histórica brasileira, que fique claro) tem levado os especialistas a
recomendarem, de maneira geral, o aumento da exposição a risco nas
carteiras dos investidores.
Hoje, por exemplo, o Estadão publica matéria
(Juro baixo vira desafio para investidor)
em que os especialistas, unanimemente, recomendam o aumento do risco:
bolsa, fundos multimercados, fundos imobiliários, crédito, enfim, o
cardápio completo para quem quer se aventurar. O investidor é, assim,
convidado a testar o nível de sua aversão a risco.
Para início de conversa, quero deixar claro que também acredito que o
aumento da exposição ao risco é uma alternativa que deve ser
considerada pelo investidor. A idéia, claro, é que com o aumento do
risco, virá um retorno maior ao longo do tempo. De acordo com o manual
clássico de finanças, quanto maior o risco, maior o retorno potencial no
longo prazo. E aqui já começa um problema com este tipo de abordagem:
muitas vezes o investidor está insatisfeito mesmo é com a rentabilidade
do seu fundo DI ou com a Caderneta de Poupança, onde está o investido o
seu dinheiro do dia-a-dia. A tentação é colocar estes recursos em
investimentos só um pouquinho mais arriscados, de modo a conseguir
retornos de curto prazo tão bons quanto os obtidos em um passado não tão
distante. Não caia nesta tentação! Seu dinheiro de curto prazo deve
ficar no investimento mais seguro possível, e ponto final. Aqui, não
olhe para a rentabilidade, mas para a segurança.
Mas fugi do assunto que eu gostaria de abordar neste post. Falávamos
do aumento do risco em carteiras de médio ou longo prazo. Por exemplo,
na poupança para a aposentadoria, ou para adquirir um bem. Para este
tipo de poupança, há quatro variáveis a serem consideradas: retorno,
tempo, aportes (inicial e periódicos) e montante final desejado. A
análise dos especialistas foca apenas na primeira variável, como se
fosse a única relevante. Na verdade, o retorno é a única variável que
está fora do controle do investidor. O manual clássico de finanças
afirma que quanto mais risco, maior o retorno potencial. Mas isso não é
líquido e certo. Nos Estados Unidos, por exemplo, a bolsa está “de lado”
há mais de 10 anos…
As outras variáveis, no entanto, estão sob total controle do
investidor. Este pode escolher investir mais e por mais tempo,ou mesmo
por ter menos dinheiro ao final do período. Vejamos o caso clássico da
aposentadoria. Digamos que um investidor esteja poupando para este
objetivo, e queira ter uma poupança de R$ 3 milhões. Se a taxa de juros
real for de 0,5% ao mês (aproximadamente 6% ao ano), e o tempo de
poupança for de 30 anos, o aporte mensal deverá ser de aproximadamente
R$ 3 mil por mês. Pois bem, digamos que a taxa de juros caia para 0,4%
ao mês (aproximadamente 5% ao ano) para investimentos de mesmo risco.
Há, então, quatro alternativas:
1. Procurar investimentos mais arriscados, que continuem proporcionando retornos de 0,5% ao ano.
2. Poupar por mais tempo. Neste caso, para obter os mesmos R$ 3
milhões com aportes de R$ 3 mil por mês, seriam necessários 33,6 anos.
3. Poupar mais. Para obter R$ 3 milhões em 30 anos, seriam
necessários aportes de aproximadamente R$ 3.750 por mês a uma taxa de
0,4% ao mês.
4. Aceitar um montante final menor. Neste caso, com uma taxa de 0,4%
ao mês, e poupando R$ 3 mil por mês, o montante final seria de
aproximadamente R$ 2,4 milhões.
Insistir somente na primeira alternativa pode ser, para alguns, como
que uma tentativa de fuga da realidade. Colocado diante da realidade de
uma rentabilidade menor, o investidor procura desesperadamente algo que
compense esta menor rentabilidade, quando poderia lançar mão de qualquer
uma das três outras alternativas, ou mesmo uma combinação das três. Na
verdade, poderia pensar em uma combinação das quatro alternativas.
Fonte: Portal Exame.
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