"MENSAGEM AO LEITOR"

Site voltado a todos os públicos, com informações atualizadas da economia, para serem transformadas em conhecimentos.

Criado para auxiliar pessoas com dificuldades em organizar suas finanças, sair das dívidas, começar a investir e conseguir planejar melhor sua vida financeira.

Por favor, sinta-se à vontade para fazer seus comentários e tirar suas dúvidas.

sábado, 22 de setembro de 2012

Rentabilidade excessiva do Tesouro Direto não é para sempre

Tenho recebido muitos e-mails de leitores que estão (com razão) empolgados com a rentabilidade apresentada pelo Tesouro Direto nos últimos meses. Em 12 meses, a NTN-B Principal com vencimento em 2035 apresentou a incrível alta de 45,25% (37,03% só em 2012). E esse é só um exemplo, já que boa parte dos demais títulos apresentaram uma rentabilidade excessiva. Mas o excessivo otimismo decorrente desses resultados também tem seus perigos.

Entenda a variação do preço do Tesouro Direto

Muitos leitores têm perguntado se deveriam investir todos os seus recursos no Tesouro Direto, por conta dessa alta excessiva. E minha resposta, invariavelmente, tem sido a de que essa alta foi uma anomalia do sistema por causa da forte queda nos juros. A Selic começou 2012 em 11% e hoje já está em 7,50% – uma queda total de 31,81%. Isso não é pouco. E isso afeta muito o mercado de juros, jogando o valor de face dos títulos lá pra cima.
Para entender o motivo, imagine que eu tenha R$ 100,00 e o empreste a você, cobrando 10% de juros ao ano. Isso significa que você pagaria, para mim, R$ 10,00 por ano. Mas digamos que você encontre uma outra fonte de empréstimo que cobra 5% de juros ao ano. Agora, você poderia pegar os mesmos R$ 100,00 pagando juros de R$ 5,00 por ano. Ou então — e aí está a chave do raciocínio –, você poderia pagar os mesmos R$ 10,00 para receber não R$ 100,00, mas R$ 200,00. Em outras palavras, reduzindo os juros em 50%, você dobrou a sua capacidade de endividamento. Como a queda de juros foi generalizada, o valor do primeiro empréstimo disparou de R$ 100,00 para R$ 200,00.
Você continuaria a pagar R$ 10,00 na primeira situação (porque os juros eram de 10%) pelos R$ 100,00 que tomou emprestado; mas, como os juros caíram, é como se, financeiramente, sua dívida comigo tivesse disparado de R$ 100 para R$ 200. Isso ocorre, no Tesouro Direto, porque os juros pagos ao longo do tempo são reajustados no valor de face do título, conforme o fluxo de caixa futuro.
Outro exemplo: digamos que eu te empreste R$ 100,00 com juros de 10% (R$ 10,00 ao ano) a serem pagos em 10 anos. No total, você deveria me pagar R$ 100,00 (valor do título) mais R$ 100,00 (valor dos juros). Ou seja, em 10 anos, você deveria me pagar R$ 200,00. Digamos que os juros caíram para 5% e eu empreste os mesmos R$ 100,00 para João, um amigo seu. Nessa situação, ele deveria me pagar R$ 100,00 (valor do título) mais R$ 50,00 (valor dos juros), totalizando R$ 150,00 daqui a 10 anos.
No momento da queda da taxa de juros, o valor do título é reajustado de maneira a compensar essa queda: o governo não faz o cálculo separado para cada um, conforme os juros forem sendo pagos. Ele reajusta o valor do título de modo a compensar as variações da taxa de juros. No nosso exemplo, isso significa que, no momento em que os juros caíssem de 10% para 5%, tanto João quanto você teriam  o valor dos juros reajustado conforme o preço pelo qual o título foi adquirido. O título de João continuaria a valer R$ 100,00 e ele receberia, no final, R$ 150,00 (porque não sofreu qualquer queda, já que contratou o empréstimo a 5%).
Mas, para você que ajustou o empréstimo a 10%, isso significa que o governo, que antes devia R$ 200 para você ao final, agora deve apenas os mesmos R$ 150,00 que deve a João. Pra onde foram os R$ 50 restantes? Eles foram incorporados ao valor da dívida. Ao invés de pagar R$ 100,00 do valor de face da dívida, ele pagará R$ 150,00 por ela, mais R$ 50,00 em juros (os juros atuais), totalizando os R$ 200 inicialmente ajustados. É por isso que o Tesouro Direto varia tanto o valor.

Tesouro Direto também tem períodos de baixa

O problema é que… essa lógica também funciona na ponta invertida. Quando a Selic aumenta, o valor dos títulos diminui. E se a Selic aumentar tão rapidamente quando vem caindo, o efeito pode ser desastroso. Por isso é que o atual momento (Selic na mínima) não é tão otimista para quem espera ganhar dinheiro dessa maneira, com a valorização dos títulos. A Selic está em 7,50% e dificilmente vai cair para 5% no horizonte de curto e médio prazos, porque a economia brasileira não aguentaria um estímulo tão forte (e o fantasma da inflação nos assombraria com muita força). Para cair os mesmos 31,80% que caiu entre janeiro e setembro, a Selic teria que despencar para algo em torno de 5% – e o efeito nos títulos seria idêntico ao que ocorreu nesse período.
A taxa de juros funciona, de certa maneira, como um elástico: quanto mais se puxa para um dos lados, mais difícil fica continuar a puxar. Como ela foi excessivamente puxada para baixo, é cada vez mais difícil diminuir os juros. Isso não significa dizer que ela vai voar como um elástico para cima, mas apenas que o Banco Central provavelmente terá dificuldades para fazer continuar esse movimento que trouxe rentabilidade excessiva no Tesouro Direto.
Ou seja: não espere auferir lucro com esses ganhos excessivos nos próximos meses e anos. Se houver uma alta na taxa, pode até acontecer o contrário, inclusive com rentabilidade negativa por alguns períodos. Invista no Tesouro Direto apenas se você se sentir confortável com os juros ajustados no momento do investimento, porque é o que você vai ganhar no fim do prazo. Esperar lucrar mais do que isso é apenas para o curto/médio prazo e com muita análise dos movimentos do Banco Central – algo que dificilmente é fazer com 100% de certeza.

Fonte:

Nenhum comentário:

Postar um comentário