O livro An Engine, Not a Camera: How Financial Models Shape Markets (The
 MIT Press, 2006), do sociólogo Donald MacKenzie, doutor pela 
Universidade de Edimburgo e ganhador da Medalha Napier, é um marco na 
análise histórica, sociológica e econômica do mercado financeiro.
O título é uma referência seminal ao 
trabalho de Milton Friedman sobre metodologia na teoria econômica; a 
metáfora que invoca é que a economia deve ser “um motor para analisar [o
 mundo], não uma reprodução fotográfica deste”. MacKenzie discorre sobre
 o desenvolvimento do mercado financeiro e da teoria financeira, e como 
ela se tornou esse ‘motor’ de análise, por meio de uma coletânea de 
entrevistas com atores renomados.
Nomes como Leo Melamed, Eugene Fama, 
Merton Miller, Nassim Taleb, William Sharpe, entre outros, forneceram a 
MacKenzie um relato em primeira mão de suas experiências, acadêmicas e 
práticas, no mercado financeiro.
Um dos exemplos que o autor investiga 
está no mercado de opções e no famoso modelo de Black-Scholes. 
No caso, o
 autor aborda a situação econômica e sociológica dos derivativos ao 
longo da história. Inicia analisando os antecessores, desde a Companhia 
das Índias Orientais, passando pela onda de hostilidade oriunda da 
Grande Depressão, e pela década de 1970, quando os derivativos eram, em 
sua maioria, considerados ilegais e equiparados à jogatina. A partir do 
quadro, MacKenzie analisa a desenvolvimento do modelo teórico, tratando 
do artigo que valeu o Nobel de Economia aos seus autores, e termina 
apresentando o panorama atual do mercado de opções à data da publicação.
Um dos pontos mais importantes está na passagem que detalha a abertura da Chicago Board Options Exchange
 e a influência do modelo nos padrões de preços dos derivativos: no 
início, não havia muita correspondência entre o previsto pelo modelo 
econômico e o observado na prática; isso começou a se inverter a ponto 
de existirem estudos (como, por exemplo, o feito por Rubinstein) que 
indicam que os preços estavam se comportando de acordo com o modelo. “A 
prática que o modelo Black-Scholes-Merton sustentava ajudou a criar uma 
realidade na qual o modelo era ‘substancialmente confirmado’.” Porém, 
isso deixou de ser observado após a crise de 1987. A importância do caso
 dos derivativos é justamente ilustrar como a teoria econômica, que 
muitas vezes é fruto de observação empírica, pode criar a dinâmicas 
econômicas e afetar diretamente o mercado.
Enfim, a ascensão do modelo Black-Scholes
 é apenas um dos episódios da rica história relatada no livro, cuja tese
 certamente se beneficiaria de mais discussões. A polêmica idéia de que a
 teoria não só descreve o mercado, mas também pode criar um ambiente 
para que o mercado corresponda mais prontamente à teoria, merece ser 
debatida. Não obstante, a pesquisa realizada por MacKenzie é essencial 
para qualquer um que queira entender a teoria e o mercado financeiro 
moderno.
Fonte: Folhauol.com.br 
 

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